segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Não existe qualidade sem profundidade




Quando iniciei esse blog tinha apenas dois objetivos, estes eram: tentar superar um pouco minha dificuldade de escrever e tentar passar para o papel – nesse caso um blog  – um pouco sobre meus pensamento e ideias, para assim, organizar melhor as coisas na minha cabeça.
 

Nesse mesmo período, me afastei do Facebook pois desejava experimentar o que a ausência da rede social poderia me trazer. Diversos amigos me procuraram, curiosos em saber como estava sendo esse período de afastamento e algumas pessoas, se mostraram envergonhadas, em confessar que sentiam vontade de fazer o mesmo, mas não possuíam coragem, pois, acreditavam/acreditam que o Facebook as “aproximam” de algumas pessoas.


A minha resposta para todas essas pessoas foi, desde o início, a mesma: Esse sentimento de proximidade, que a rede social traz, não passa de uma falsa ilusão. Só estará ao seu lado, lutando contra as adversidades da vida e compartilhando seus altos e baixos aquele que verdadeiramente desejar estar. 

Além disso, percebo na rede um “excesso” de amizades. Será que é realmente importante manter contato com aquele “amigo” que você conheceu no curso de inglês, do qual participou por 3 meses, e depois nunca mais viu na vida? Ou então, aquele “amigo” que você fez, no período que estava empolgado com a academia, mas que claro, você largou depois de 2 meses? Ou ainda, aquela “amiga” chata de colégio, que na verdade, vocês nunca se deram bem? Mais importante do que isso, me reservo no direito de "perguntar", se você realmente consegue manter contato com todos os habitantes da sua tão querida lista de "amigos"? Devo confessar: eu não consigo e também não considero necessário manter contato ou compartilhar minha vida com todos que por ali circulam

Vivemos em uma sociedade cada vez mais líquida, não construímos nada que seja feito para durar, inclusive nossos laços afetivos. Em nossa forma mais egoísta, é sempre cada um por si. Esquecemo-nos que relacionamentos são construídos com base na confiança, são feitos de pessoas que estão ali para o que der e vier, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza – Clichê, mas real –. Relações essas, que são impossíveis de serem construídas se você foge aos inconvenientes da vida offline. – Infelizmente, algumas pessoas ainda não perceberam que não existe qualidade sem profundidade. –

Em uma entrevista, Zygmout Bauman, diz: “é bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade”. Essa “idéia” desenvolvida por ele, não é de exclusividade das relações amorosas, mas sim, de todas as relações desenvolvidas por nós, seres humanos. Vivemos em uma sociedade amedrontada pela neurose da rejeição. Ao menor sinal de problema ou crítica, nos adiantamos, e damos o primeiro passo: rejeitamos, para não sermos rejeitados. Assim, ciclicamente, substituímos aquele que não nos serve mais, sem nos apegarmos a nada nem a ninguém. Deixamos de dar importância para a qualidade, e por conseguinte, abrimos espaço e exaltamos cada vez mais a quantidade.

Esquecemos que relacionamentos são construídos com base no afeto, na cooperação, no respeito, na confiança, na lealdade, etc. Precisamos aprender a dividir e a ver os relacionamentos, não como uma prisão, mas sim, como uma chave para a liberdade, onde só conseguiremos atingir essa "liberdade", se aprendermos a confiar mais uns nos outros.

Deixo com vocês um curta extraordinário, “Head Over Hells”, que recebi de um amigo e que com toda certeza vale o clique. Não apenas para assistir, mas para ver e absorver. Foi desenvolvido pelo americado Timothy Reckar com a técnica de Stop Motion e foi o vencedor do Anima Mundi 2012.
A história gira em torno de um casal que, mesmo vivendo na mesma casa e estando “conectados” 24h por dia, acabam por ser afastar. A grande verdade é que ambos vivem “sozinhos”, – como muitos de nós,– imersos no individualismos.

Estarmos “conectados” 24h por dia, nos não deixa mais próximos de ninguém. Impossível não se identificar e se emocionar. 




PS1: a imagem inicial do post pertence ao projeto de um amigo chamado Eu me chamo Antônio.


7 comentários:

  1. Amei, Ju! Parabéns!

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  2. Incrível o texto! E como você mesma citou ali, eu sou mais um que tenho essa vontade e, concordo plenamente com o que diz! Parabéns!

    PS: só não consegui assistir ao curta, mas vou procurá-lo na internet.

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    1. Muito obrigado Felipe. Procure sim o curta pois vale muito a pena. A animação é linda! :)

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