segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sociedade Mecânica - Uma análise ao livro Laranja Mecânica


Violento, sádico, anarquista, este é Alex, de Laranja Mecânica. Sua maior e talvez única virtude é ser sincero consigo mesmo e com sua própria natureza. Aceita-a genuinamente, sem culpas ou dúvidas. Espanca pessoas, estupra meninas de apenas 10 anos, mata senhoras, tudo isso, sem o menor peso na consciência ou arrependimentos, vive para fazer suas vontades. Essa é sua natureza, e não existe motivo para lutar contra. Acredita que no mundo, existam pessoas boas, assim como existam pessoas más. Na verdade, um dos únicos problemas enfrentados por Alex é o sistema, onde, apenas os bons, tem direito a um lugar ao sol.

 Alex vive esse estupor de sentimentos e realizações até seus 16 anos. Quando, em uma noite, igual a todas as outras, ele e seus amigos invadem a casa de uma senhora, para roubar-lhe seus bens de valor. Inicialmente, tudo ocorre como o planejado por Alex. Uma luta ocorre entre ele e a pobre senhora e no final, como era de se esperar, ele vence. Tudo começa a fugir de seu controle quando ele percebe que seus velhos “druguis*” amigos o traíram. A polícia chega, seus amigos fogem e apenas Alex acaba sendo preso. A pobre senhora, devido aos fortes golpes que recebeu acaba morta e Alex condenado a 14 anos de prisão.

 É neste momento do livro, em que Alex já se encontra à 2 anos na prisão que uma nova reviravolta acontece em sua vida e ele aceita ser cobaia de um novo e revolucionário tratamento, onde receberia sua liberdade após 15 dias. O tratamento ocorre como planejado. Medicamentos e filmes são exibidos para Alex todos os dias, causando-lhe uma “overdose” pelo excesso de perversidades que é obrigado a admirar. Assassinatos, brigas, estupros, sangue, holocausto, etc. Alex é exposto a todo o tipo de crueldade existente no mundo e esse excesso, altera seu modo de lidar com sua própria natureza impiedosa, passando a não suportar mais ver ou fazer maldades. Só de cogitar a idéia, começava a ficava enjoado, sendo assim, conscientemente, obrigado a ter apenas pensamentos bons para poder continuar vivendo. Mas, essa não é a natureza de Alex. Ele é uma pessoa maldosa, e pelo fato de não conseguir ser ele mesmo, desenvolve em si o desejo de morrer, não consegue viver em um mundo, onde precisa a todo momento lutar contra si mesmo.”

Esse “antigo” livro, foi lançado em 1962, por Anthony Burgess. Apesar da data de publicação, esse não poderia ser mais atual. Se deixarmos de lado a idéia de violência desenvolvida por Burgess e prestarmos atenção no conceito de alienação e lavagem cerebral que o governo, a mídia e a publicidade exercem sobre a sociedade, perceberemos, o mesmo retrato de “sofrimento” que o pequeno Alex foi submetido no livro, presente em nossa sociedade moderna. Uma sociedade, onde pessoas nascem e, inconscientemente são modeladas, dia após dias. Sem perceber, esquecem seus direitos de escolha ou poder de tomar decisões. 

A publicidade nasce para criar necessidades. O governo, continua a desenvolver seu trabalho sem investir efetivamente em necessidades básicas como a educação, saúde, segurança. E a mídia deixa de lado seu papel na construção de uma sociedade mais participativa, igualitária e solidária ao visar apenas o lucro, o poder, o prestígio e o domínio das grandes massas.

Segundo Julian Assange, no Brasil, 70% da imprensa está nas mãos de apenas 6 famílias, e são essas poderosas proles que, a partir de seus interesses pessoais, ditam quais são os conteúdos que chegam ou não ao nosso alcance com a devida importância, nos manipulando a partir do ponto de vista dos que estão no poder e nos tratando como fantoches. É essa imprensa que enfatiza, nos emociona e transforma em espetáculos acidentes como o caso da balada Kiss, em Santa Maria – RS, onde morreram 239 jovens. Mas, ao mesmo tempo, é essa mesma mídia que ignora a antiga “tradição”, que acontece no Brasil inteiro, onde milhares de crianças com menos de 13 anos se casam para que possam ter uma vida mais digna. Ou então, com cada mulher que é estuprada a cada 12 segundos no Brasil. Na verdade, não precisamos ir muito “longe”, podemos citar um dos “novos” problemas que assola o Brasil, que é o número crescente de craqueiros.

Tenho certeza que todos ouviram falar, assistiram ou curtiram o carnaval. Durante 4 dias, a cidade parou, para ver a espetacular tradição festiva, transformando o carnaval, no assunto principal. O show é grande e a audiência compra. Agora, permita-me perguntar se você consegue lembrar qual a importância que a mídia deu para a eleição de Renan Calheiros como presidente do Senado, onde foi eleito com 56 votos secretos? Quais canais, falaram/lembraram para os brasileiros quem é Renan Calheiros e quais são os crimes sobre os quais ele é acusado? Provavelmente, você também ouviu falar muito pouco sobre o fato dos parlamentares, que recebem um salário de R$26.700,00, emendarem o feriado de carnaval e voltarão a trabalhar somente segunda-feira, dia 18/02, enquanto nós, reles mortais, voltamos ao trabalho quarta-feira, meio-dia. 

Neste pequeno exemplo que acabei de citar sobre o carnaval, podemos facilmente perceber a influência desses 3 poderes em nossas vidas. A publicidade vende e se apropria do carnaval para assim, vender mais. O governo, impunimente, como sempre fez, toma decisões que irão influenciar a vida de todos nós brasileiros, sem na realidade se preocupar com a opinião da sociedade. A mídia, “vende” o que é mais lucrativo, ao invés de se preocupar com o desenvolvimento da sociedade. A única grande diferença que vejo entre a lavagem cerebral sofrida pelo jovem Alex e a que sofremos é que somos “dominados” com doses homeopáticas, para que não percebamos o que está sendo feito pelos que estão no poder.


Brasil, um país de todos. Será mesmo?

*Druguis - Para o desenvolvimento do livro, Anthony Burgell, desenvolveu um "dialeto nadsat", que são as gírias faladas por Alex e seus amigos. Druguis em nadsat significa amigos.

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