quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sinto que não sou boa

“Sinto que não sou boa. Vivo sempre cheia de culpas e dúvidas. Minha cabeça anda pesada, um sorriso no rosto, é quase impossível alguém me tirar. As pessoas sempre me cobram sorrisos e felicidade a todo momento. Meus amigos estão sempre felizes, sei disso, pelas diversas atualizações que eles fazem em suas respectivas redes sociais. Estão sempre a passear com os cachorros, a fazerem atividades físicas, em jantares românticos com os namorados/as, sempre rodeados de amigos/as e, o que me parece mais incrível, percebo-me até no ato de inveja-los, é o quão satisfeitos, aparentam estar, em suas vidas perfeitas

Eu, estou aqui, sozinha, sábado a noite, com uma garrafa de vinho francês pela metade. Não faço nenhuma atividade física, (talvez por isso, eu esteja um pouco acima do peso, deveria seguir meus amigos que vivem se exercitando, dizem que é óoootimo) tenho preguiça. Meus amigos? Eu não sei, devem estar em alguma festinha PVT (Sinceramente, não faz muito meu estilo, mas as vezes eu vou, pois não quero ficar sozinha em casa todas as noites). Meu emprego anda bem, ou não, na verdade, já não sei mais como descreve-lo. Se eu disser que não estou satisfeita, as pessoas podem me julgar, porque afinal, trabalho em uma multinacional e ocupo um cargo de diretoria. Sinto-me cobrada e julgada a todo momento, as pessoas me olham torto quando eu não demonstro estar feliz. Como pode, logo eu não estar feliz, quando todas as outras pessoas ao meu redor enradiam felicidade? Não posso. Vamos lá, cabeça erguida, sorriso no rosto, piada pronta (tenho que ser engraçada também). É isso que as pessoas esperam de mim. Não posso jamais decepciona-las, ao deixar transparecer que não estou tão feliz quanto elas, até porque, pode ser que elas comecem a me excluir caso eu não atenda as expectativas. Mais um dia que vem. Vamos com tudo, Uhuul, alto estima é tudo nessa vida, né gente?!... ” :)

                               *Armelinda de Jesus Aparecida, economista, Diretora Executiva do Banco Zurita.


Esse depoimento, poderia estar sendo dado por mim, ou por qualquer um de nós. Cada dia mais, a sociedade, nos cobra para que sejamos perfeitos, com vidas, impecáveis. Relacionamentos maravilhosos, empregos magníficos, corpos esculturais, amigos ideais, etc. Aí de quem não se encaixa nesse sistema, deve, por si só, perceber a hora de se retirar, pois ninguém deseja ao lado, uma pessoa “incapaz” de ser feliz, que só faz reclamar da vida. Pessoas de mal humor, e com problemas pessoais não são desejadas.

Atualmente, um termo que se ouve muito falar, "Ditadura da Felicidade", onde nos vemos, obrigados, a nos subordinar perante as regras da sociedade, seguir os padrões, onde, a “nova” cobrança, é que sejamos felizes 24h por dia, independente de qual seja o custo.

Nessa “nova/atual” sociedade, ser feliz, perfeito e estar antenado são os requisito básico para a “sobrevivência” e convivência em grupo. Afinal, com todas as cobranças que sofremos diariamente, ninguém quer parecer fraco e muito menos inferior, a quem quer que seja. Necessitamos estar sempre com o corpo perfeito, em um relacionamento impecável, ter o último modelo de smartphone, o último carro do ano, e o mais importante, estarmos o tempo todo de bom humor. Precisamos, acima de tudo, aparentar, sermos e termos, mais do realmente somos e temos. Expor nossos problemas? Não, não, isso seria inadmissível, iriamos contra as regras e correríamos o risco de sermos ridicularizados e desprezados, pareceríamos fracos. – A palavra “fraqueza”, hoje em dia, já está quase extinta do dicionário, pode procurar – .

O grande problema, é que, na vida, nem sempre conseguimos o que queremos, ou somos tão bons como desejaríamos ser, ou sequer, tomamos as melhores decisões. As vezes, não conseguimos ter ao lado a pessoa que amamos, ou o emprego dos nossos sonhos, ou o ultimo modelo de iPad, muitas vezes, não conseguimos sequer, ter um smartphone de qualidade, para que possamos tirar “fotinhas” no Instagram e compartilhar nas redes sociais para que nossos amigos possam ver, o quão “felizes” nós somos. 

Acredito que precisamos de mais verdadescomo meu amigo diz –, conosco mesmo e com nossas relações interpessoais. É necessário, que sejamos mais abertos, pacientes e que criemos condições de nos ajudarmos uns aos outros, ao invés de apenas nos vangloriarmos dos nossos feitos, em nossas “vitrines” marketeiras. Sinceramente, não acredito em ninguém que aparente ou se apresente como 100% satisfeito. Todos nós temos medos, temores e problemas. Julgo ainda, que este seja um processo comum e necessário, para nossa própria evolução, no que se refere ao enfrentamento dos problemas da vida. A grande verdade é que todos temos defeitos e ninguém consegue ser perfeito. Sendo assim, creio que todos nós, podemos e devemos, nos reservar o direito, de não nos sentirmos obrigados a sorrir a todo momento, e sim, viver aquele sentimento até que um dia, o tempo o leve para longe.



PS: segundo uma pesquisa alemã, o Facebook traz infelicidade

* Nome e depoimento fictícios.


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