segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Árvore sem raiz, não fica em pé


Voltei a acessar o Twitter. Minha conta estava inativa havia mais de 1 ano. Sem apego nenhum, deletei tudo o que tinha postado anteriormente e estou começando do zero. Essa atitude de “apagar meu passado”, sem nenhum apego, me fez pensar em como a interação que desenvolvemos com o mundo virtual e com as pessoas nele presentes são, em sua grande maioria descartáveis e superficiais.

Começamos e terminamos relacionamentos num piscar de olhos. Como as ondas do mar que vem e vão, criamos laços frágeis em um meio de comunicação cada vez mais superficial. Com a rapidez de apenas um clique delete, podemos excluir de nossas vidas aquele amigo baixo astral, aquela prima ativista, aquela tia inconveniente, etc. 

Em sua grande maioria, os assuntos não são tratado da forma e com a importância que deveriam, tornando-se assim banais. Essa falta de contato entre pessoas no mundo físico faz com que elas se sintam mais inseguras quanto a força daquele relacionamento, desenvolvendo-se assim um elo frágil, que pode ser rompido a qualquer momento. Nada nos garante sua continuidade.

Além disso, pelo fato dos relacionamentos atuais se darem em sua maior parte no mundo virtual, abrimos margens para interpretações dúbias. Você já parou para pensar em quantas vezes foi interpretada de forma errônea ou não conseguiu se expressar como gostaria? Ou então, a quantidade de vezes em que foi você, que não conseguiu entender direito o que a outra pessoas estava querendo te dizer?  Todos nós, seres humanos, a partir da nossa bagagem cultural e do estado mental que nos encontramos, tiramos inúmeras conclusões sobre os assuntos que nos são apresentados. No caso de uma “conversa” online, por SMS ou por WhatsApp,  as chances de que essa conclusão seja desenvolvida de forma incorreta e/ou incompleta é muito maior, pois não existe “troca” instantânea, nem real de informações, opiniões, sensações e sentimentos que geralmente são desenvolvidos em um diálogo. A “troca” desenvolvida no bate-papo é sempre moderada, de forma automática, por você, na hora de transcrever o que está pensando.

Essa falta de entendimento na comunicação gera ansiedade e um distanciamento ainda maior entre as pessoas. A ausência do diálogo, impede que as relações sejam aprofundadas e a transferência de afeto e sentimentos se tornam quase nulas, o que faz com que não exista um cuidado por aquela relação que está sendo desenvolvida.

Tenho um amigo, que considero como um irmão. Nos conhecemos no trabalho e desde o início, a relação desenvolvida entre nós sempre foi de muito cuidado. Quase todas as vezes em que nos encontramos, ele me lembra e enfatiza como é importante aquele encontro e de como ele gosta de estar presente ali, naquele momento; do ato de conversar olho no olho; de perceber as reações  que desenvolvo a partir de cada palavra que ele pronuncia; etc. Ele sempre me fala, de uma forma até engraçada, como é importante que percebamos a “verdade” das coisas, os sentimentos que elas trazem para as nossas vidas. Essa verdade é a que consideramos importante, a verdade de sentimentos, de relacionamentos. E é essa verdade que desejo continuar buscando em todos os momentos da minha vida. 

3 comentários:

  1. Oi Juliana.

    Sobre isto:

    "podemos excluir de nossas vidas aquele amigo baixo astral, aquela prima ativista, aquela tia inconveniente, etc".

    Quando "descobri" o Facebook, tomei dois cuidados: não colocar o meu local de trabalho, pois sempre me incomodou a síntese das pessoas ao que elas fazem, seja como profissão ou estudos. Entendo que não somos uma coisa apenas, "você não é seu trabalho" (Clube da Luta). O outro cuidado é não bloquear ninguém, nem mesmo o mais baixo astral, o mais chato-ativista ou o (in)conveniente, simplesmente porque não me acho em condição de desmerecer quem quer que seja. Não me compete isso. Parece-me confortável pensar que todo e qualquer um, certo dia, poderá me surpreender. Daí, não me bloqueei para ninguém também, sabendo que eu sou, por vezes, baixo astral, chato-ativista e inconveniente.

    Outro ponto:
    "Essa verdade é a que consideramos importante, a verdade de sentimentos, de relacionamentos. E é essa verdade que desejo continuar desenvolvendo em todos os momentos da minha vida. "

    São constantes as vezes que sinto falta de verdade. Dessa verdade. Dia desses assisti "Na natureza selvagem", um ótimo filme, não pela aventura realizada pelo personagem, nem pela liberdade extrema, por mim querida e dificilmente conquistada, mas sim pela verdade explícita a cada passo do protagonista. Dentre todos os sentimentos, sou esperança, mas a verdade (seria ela um sentimento?), essa é digna a ponto de concordar com este dito no filme:

    "Em vez de amor, dinheiro, fé, fama, equidade... me dê a verdade"
    Thoreau

    Espero que tenha uma semana verdadeira.

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    1. Claudio,
      Acredito que a "verdade" é uma coisa rara hoje em dia. E quando encontramos, devemos cuidar bem.

      Agora quanto aos amigos, o facebook, automaticamente faz um filtro, e você recebe apenas notificações de amigos que você possui mais coisas em comum. É como se fosse uma "pré-seleção natural" do seu ciclo de amizades.

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