Ele, vindo do nordeste para tentar a sorte na cidade grande,
chegou em São Paulo, no dia 01 de Abril. Até parece brincadeira referente ao
dia da mentira, mas nesse dia, ocorria a “Marcha das Vadias”, na famosa Avenida
Paulista.
Ele estava lá, nunca tinha visto um protesto, ainda mais
como mulheres nuas. Onde já se viu, desde quando mulher precisa tirar a roupa
pra fazer manifestação? Foi no meio desse caos, que seus olhos avistaram uma
menina magricela, cabelo rosa, nua e toda suja de tinta. Ficou ruborizado
de pronto, nunca antes havia visto uma mulher pelada à sua frente. Seus olhos
se encontraram, ela caminhou ao seu encontro, vociferava palavras como
machismo, estupro, corpo, vadias, crime e diversas expressões que ele não
entendia os significados.
A marcha continuava, eles caminhavam e reivindicavam lado a
lado, mesmo sem saber exatamente o quê ou para que. Os jornais estavam todos
lá, a registrar. Caminharam a Paulista inteira, horas gritando e protestando. Quando a marcha terminou, olharam-se, despediram-se com um sorriso e
cada um seguiu seu caminho, como normalmente acontece entre dois desconhecidos.
No dia seguinte, uma foto e um jornal. Estampavam a primeira página, em destaque.
Quem era aquela mulher? Nem ele sabia.
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